terça-feira, 27 de junho de 2017

Grande Entrevista no Jornal "A BOLA" com o "Chico" Vital...dias antes de apresentar-se no Sport Lisboa e Benfica


No Jornal "A BOLA", do dia 17 de Julho de 1980, foi publicada uma grande entrevista com o "Chico", com direito a primeira página, tendo por título, no canto inferior direito..."Depois de Sevilha...Vital quer vencer no Benfica". A entrevista de fundo, conduzida pelo jornalista Alfredo Barbosa, surge-nos na página 5, continuando e finalizando na página 12, com o título: "Vital depois do Porto e Sevilha...Quero ser titular e Campeão pelo Benfica"...

Nesta entrevista, o "Chico" abordou, sem tabus, toda a sua carreira no futebol português, até aquele momento...Assim:

"Após alguns dias de férias no Algarve, Vital regressou à sua casa no Porto, e, onde nos concedeu esta entrevista. No dia 24 [de Julho], estará no Estádio da Luz para se submeter, juntamente com os restantes reforços benfiquistas, às habituais inspecções médicas. O ex-portista e ex-bético entra no Benfica com grandes objectivos:

- Primeiro que tudo vou lutar pela titularidade e estou convencido de que tenho de lutar muito para conseguir impor-me. Depois quero ser campeão nacional [o que acabou por conseguir] e ajudar o Benfica a recuperar o seu prestígio europeu.

- Vital acha que, ao falar assim, não está a pensar em «impossíveis» e explica:

- O Benfica está a reestruturar-se e a seguir uma política de aquisição e de movimentação de jogadores para poder dispor de um grande «plantel» como noutros tempos. Estou convencido de que, desta forma o Benfica vai voltar a ser aquilo que era.

E adianta:

- Quando me transferi do Riopele optei pelo F.C. Porto em detrimento do Benfica porque o F.C. Porto me dava a entender que seria o clube melhor organizado e apetrechado e o ideal para eu me promover futebolisticamente. Agora parece-me que o Benfica também está nesse caminho e como não tinha posto de parte regressar ao Benfica...

-Onde foi juvenil, júnior e sénior...

- Como júnior, fui uma vez campeão nacional e sagrei-me o melhor marcador com mais de cem golos. Na altura, falava-se que nunca nenhum jogador tinha conseguido marcar tantos golos numa só época, que conseguira, bater um «recorde» do Camolas [de seu nome José Carlos da Silva Camolas, avançado que se destacou nos inícios dos anos 60 nos juniores do Benfica, tendo-se, posteriormente, destacado no União de Tomar e Belenenses, por não ter vingado na Luz]. Na minha primeira época como sénior, fui emprestado, ao fim de alguns meses, ao Famalicão, mas ainda integrei, nessa temporada, uma equipa mista [de juniores e séniores] do Benfica que efectuou uma digressão aos Estados Unidos. Depois do Famalicão, tinha de regressar ao Benfica, mas o meu pai achou que eu devia acabar o curso e mandou-me regressar a casa. Foi assim que regressei às Caldas da Rainha (eu «nasci» para o futebol nos juvenis do Caldas), fiz o curso de Formação de Montador Electricista e passei a jogar no Marinhense, emprestado pelo Benfica. No final dessa época, fui cedido ao Riopele aonde joguei três anos. Era benfiquista ferrenho e o Riopele entrou no meu coração, passando a ocupar um lugar importante. Fui o melhor marcador dois anos da Zona Norte [da II Divisão Nacional]. Depois transferi-me, como sabe, para o F.C. Porto, assinando um contrato de quatro anos, que só não chegou ao fim porque fui para o Bétis.


PEDROTO E FERREIRINHA...

- No F.C. Porto nunca chegou a impor-se como titular indiscutível...

- É um facto que não, mas fui o único jogar que participou em todos os jogos durante os quase três anos que lá estive. Se não entrava de princípio, acabava por entrar a substituir algum companheiro.

Nota Vital:

- Apesar de não ter sido um titular indiscutível, estou consciente de que contribui com uma boa quota-parte  para que o F.C. Porto fosse campeão. E estou convencido de que se me tivessem sido dadas mais oportunidades teria ido mais longe. Com isto, não quero dizer que não me tenham sido dadas oportunidades. A verdade, reconheço, é que era muito difícil haver lugar para todos num «plantel» como o do F.C. Porto. Aliás, devo dizê-lo, por ser justo, que o sr. Pedroto, foi o melhor técnico que tive até hoje - o mais completo em todos os aspectos. Mas o treinador que melhor soube aproveitar as minhas qualidades foi Ferreirinha, no Riopele. Acho que tenho sido injusto com ele ao não citar, nas minhas entrevistas, este aspecto.


OPÇÃO PELO BENFICA...

Conta-nos Vital que o Benfica, logo que soube que havia possibilidade de contratar, o contactou telefonicamente para Sevilha, através de Gaspar Ramos. Depois teve um encontro, nas Caldas da Rainha, com Ilídio Fulgêncio.

- Nessa altura - observa Vital - já tinha acordos de verbas com outros clubes, mas não estava comprometido com nenhum. Um desses era o Belenenses, por quem fui acusado publicamente de ter faltado ao prometido. Não é verdade, pois a todos respondi que só me decidiria depois de ver as condições que me ofereciam - não só as condições materiais, mas também, de trabalho.

- O que o levou a optar pelo Benfica?

- Foram sobretudo, as perspectivas de futuro que se lhe abrem. Havia clubes que me ofereciam melhores condições financeiras.


NEM TUDO FOI MAU...

- Vital, fale-me da sua experiência espanhola.

- Foram três meses e meio que valeram a pena, apesar de tudo. Primeiro, porque o ingresso no Bétis deu-me a possibilidade de ganhar mais um pouco, embora, na prática, não tenha sido tanto quanto poderia ser, pois tive de dar dinheiro para me desligar e poder ingressar no Benfica. A minha ida para o Bétis e, agora, a minha entrada no Benfica trouxeram-me, penso, a compensação de me desligar de um contrato baixo - que era aquele que possuía com o F.C. Porto, apesar de ter sido actualizado - e passar a dispor de um contrato ao nível do que vem sendo pago aos melhores valores do futebol português.

- Porque não se impôs no Bétis?

- Primeiro que tudo foi um problema de adaptação. Não me adaptei à maneira de viver espanhola, mas sobretudo, á maneira de ser do técnico que tinha. No capítulo das relações humanas, Luis Carriega é um desastre. Falava dos estrangeiros de uma maneira muito desagradável, incluindo [António] Oliveira [que tinha passado pelo Bétis]. Eu chegava ao estádio, dava-lhe os bons dias e ele não me respondia. Falava com sarcasmo dos oriundos. Na primeira palestra que proferiu, disse que preferia ser recordado como má pessoa do que como boa pessoa. E a verdade é que uma pessoa é mesmo obrigada a ficar a lembrar-se dele. Durante os estágios, ia aos quartos de uns dizer mal de outros e, depois, saía para outros quartos dizer mal de outros. Sinceramente, para mim, ter Luis Carriega como treinador foi um choque muito grande, porque ia habituado a boas relações humanas.

Junta Vital:

- Carriega domina a Imprensa e «joga» muito com os jornalistas. Faz «mafia»

- Você foi vitima dessa «mafia»?

- Em parte fui. Muitas das coisas que eu dizia em entrevistas eram deturpadas e viravam as pessoas contra mim, para além de aparecerem entrevistas que eu nunca tinha dado. Lembro-me que uma vez me perguntaram se o F.C. Porto jogava com extremo-esquerdo fixo (nessa altura era muito falado o Costa) e eu respondi que sim, naturalmente; pois saiu na entrevista que o Bétis tinha de comprar outro extremo-esquerdo. Mas essas deturpações não aconteciam apenas em relação a mim, na imprensa sevilhana.

Não deixou de observar Vital:

- Com isto, não quero dizer que tudo tenha sido mau. O ambiente entre os jogadores do Bétis era extraordinário e fui bem recebido em Sevilha por muita gente.


PREPARAÇÃO «À MODA DO LESTE»

Vital confessa-nos que não conseguiu adaptar-se aos treinos ministrados por Luis Carriega.

- Eu ia habituado a uma preparação diferente, quer em qualidade, quer em quantidade. No Bétis, acontecia que o preparador físico dava o esquema do treino e, depois aparecia Carriega, ao fim de duas horas «no duro» a começar tudo do princípio. Era uma preparação saturante e que abusava dos exercícios de potência. Não tardei a verificar que as minhas massas musculares haviam aumentado e tinha perdido velocidade. Isso aconteceu com jogadores rápidos como [o inglês] Cunnigham e o Oliveira.

Assinala Vital:

- Eu não pretendo tirar mérito à preparação que Carriega dá, porque na verdade, depois que ele tomou a sua orientação é que a equipa recuperou classificativamente. Em face disto, até poderei estar em parte, errado na minha observação.

- Mas decidiu abandonar o Bétis depois que teve conhecimento de que Carriega iria continuar, na próxima época...

- Pois decidi, porque realmente, não consegui adaptar-me à forma como ele se conduzia nas relações humanas. Eu conseguiria adaptar-me com o tempo à preparação, mas ao seu trabalho não. Recebi até ao último momento palavras amigas de «aficionados» do Bétis, que me diziam que eu tinha valor para me impor. Eu penso que, apesar de ter estado pouco tempo no Bétis, algo do meu valor icou demonstrado. E uma coisa verifiquei: o jogador espanhol tem mais espirito de sacrifício do que o português. Concordando ou não, mal ou bem faz sempre o que o treinador lhe manda. Vi equipas das categorias mais jovens a treinar com mais dureza que, cá, em Portugal...Parece-me, no entanto, errado que, numa cidade como Sevilha, se ministre uma preparação semelhante às dos países de leste.


PÊSSEGOS, BANANAS, FRITOS...

Conversamos com certa informalidade, e Vital fala-nos dos estágios no Bétis:

- Comem-se pêssegos e bananas nos estágios, os frutos proibidos aos jogadores de futebol em Portugal. Comem-se dois pratos - um de peixe e outro de carne -, além da sopa. Os pratos de carne e peixe eram à base de fritos. Eu comia o peixe ou a carne, ou a metade de cada, não rapava o prato, e escolhia, normalmente, o peixe. Depois dos estágios, voltava aos meus grelhadinhos.

Continua Vital a contar:

- Para fumar, os jogadores tinham que o fazer às escondidas.

- Davam vinho às refeições?

- Uma garrafa para cada quatro. Eu normalmente, não bebo, durante  época futebolística. E não fumo, como tem visto.

Acrescenta Vital:

- O jogador espanhol faz pelas costas o que o jogador português faz pela frente. Para sair à noite com a mulher a uma discoteca é preciso andar às escondidas. Em Portugal, no entanto, encara-se com a maior naturalidade que o jogador vá, no seu dia de descanso a uma discoteca. Esquecia-me de dizer que, no Bétis, não havia dia de descanso: quando não treinávamos, jogávamos. Leva-se uma vida muito presa, no futebol espanhol. Em três meses e meio, saí uma vez de casa, quando lá foi o meu pai visitar-me. O que acontece lá, é que o jogador de futebol tem mais popularidade do que aqui.


QUASE SÓ «BECOZYM»

Vital diz-me também, que treinava de manhã, mas que os treinos, na sua opinião, devem ser à hora dos jogos.

Depois, pergunto-lhe se alguma vez se tinha «dopado»

Vital nega e afirma:

- «Droga nada» dizia Carriega. Não sei se alguém tinha «farmácia particular...Eu não me droguei, nem fui drogado.

- E a vitaminização? - indago.

- Era muito pobre. Davam-nos quase só «Bécozyme» [uma vitamina dada para esforços físicos mais excessivos] injectável e Vitamina C dissolvida na água. O F.C. Porto está, como sabe, muito bem organizado, também, nesse aspecto e teve que sentir a mudança. Quem me ajudou foi o Vitor Hugo que chegou a mandar-me complexos vitamínicos.

Aproveita Vital para contar:

- Uma ruptura, aqui, cura-se com descanso; lá, dão umas massagens que obrigam os jogadores a roer as toalhas e a chorar. Eu vi «gajos» valentes a gritarem. Só pedia a Deus que nunca tivesse nenhuma ruptura. O departamento médico do clube é muito pobre. Quando surgem casos mais graves, há o recurso a variadíssimos médicos que dão apoio ao Bétis.

Observa:

- Constitui, para mim, um choque muito grande sair de um clube onde tudo estava minuciosamente organizado, como acontecia no F.C. Porto, para outro como o Bétis.

Entrevista a terminar, Vital a falar novamente do seu regresso ao Benfica:

- Não vou ter problemas e adaptação ao Benfica, porque já conheço a casa e todos os colegas que vou encontrar. Alguns jogaram comigo nos juniores como o Shéu, o Bastos Lopes, o Pietra, o Alves; os mais antigos, Nenés, Humbertos, já os contactava nessa altura; e os mais novos tenho contactado na Selecção de «Esperanças». Vou para o Benfica para lutar por um lugar e espero conseguir esse objectivo com trabalho e ajuda dos meus colegas".



segunda-feira, 26 de junho de 2017

O "Chico" regressa ao Sport Lisboa e Benfica...Depois da pequena "experiência" em Espanha...


Na edição, do Jornal "A BOLA", do dia 21 de Junho de 1980, titulava-se: "Vital - Contrato por três épocas...Regressar ao Benfica será o melhor para mim...Entre os muitos convites que recebi, incluindo do F.C. Porto"
 
E prosseguindo a notícia, afirmava-se: "Através de um contrato firmado, ontem [20 de Junho de 1980], à noite, na Adega da Quinta de S. Vicente, quando se iniciava o jantar de homenagem a Justino Pinheiro Machado [que foi um antigo dirigente do Sport Lisboa e Benfica e da Federação Portuguesa de Futebol], o «ponta de lança» Vital (ex: F.C. Porto e ex: Bétis de Sevilha) será jogador do Benfica nas três próximas épocas [contrato que não chegou a cumprir até ao fim, como sabemos]. O compromisso foi assinado na presença do presidente da Direcção dos Benfiquistas, [José] Ferreira Queimado (bem como na do dirigente Ilídio Fulgêncio e do novo treinador-adjunto [do húngaro Lajos Baroti], Fernando Caiado) e, pouco depois de formalizar, por escrito, este seu regresso aos encarnados (de onde saiu há dez anos), Vital começou por nos afirmar:
 
- Não considero que fracassei em Espanha, mas sim que não me adaptei ao modo espanhol de viver, nem à forma espanhola de jogar o futebol, nem tão pouco à maneira de ser do treinador do Bétis. Como técnico, nada tenho a dizer de [Luís Cid Pérez] Carriega, porque é assim que se trabalha em Espanha; mas como homem, sim, não posso concordar com ele, pois estou habituado a lidar com pessoas sérias e honestas e, infelizmente, ele falha muito no capítulo humano.
 
Prosseguindo:
 
- Fundamentalmente, porém, não me adaptei ao futebol e ao quotidiano da vida espanhola, que é muito diferente da nossa. Tanto ou pouco diferente que, através do seu jornal, gostaria de dar um conselho aos jogadores portugueses que pensem, eventualmente, ir jogar para Espanha: - pensem bem, muito bem, no que fazem, porque as dificuldades são muitas. E, até por isso, ainda mais verifico que só com muita categoria o Damas, o Quinito, o Bastos e, sobretudo o [João] Alves, puderam superar tantas dificuldades e impor-se.
 
Depois:
 
- Vendo cedo que não me adaptava, sempre encarei a hipótese de sair e de regressar ao futebol português. E sabendo que iria lá um emissário português de um clube português (não sei qual) para negociar a minha transferência antecipei-me e desliguei-me do Bétis, abdicando daquilo que ainda tinha a receber. A partir daí, fui contactado por diversos clubes portugueses (direi mesmo que por quase todos), mas nunca me comprometi com nenhum. Mesmo nos casos em que chegou a haver acordo de condições (o que aconteceu com alguns), fui sempre dizendo que só decidiria pela escolha depois de ponderar muito bem o assunto. Ao fazer essa análise global, acabei por reconhecer que regressar ao Benfica seria o melhor para mim, através do contrato agora mesmo assinado, voltarei a ser jogador do Benfica nas três próximas épocas.
 
A concluir, respondendo a outra pergunta nossa:
 
- Sim em tempos, também fui convidado pelo F.C. Porto, por intermédio do sr. Pedroto. E claro está que essa era uma das hipóteses que eu mais considerava, até por não poder esquecer que sempre me senti muito bem no F.C. Porto. Mas sendo a minha decisão tomada só agora, e tendo surgido no F.C. Porto os problemas que se conhecem [refere-se ao litígio que opôs, o então Director do Departamento de Futebol, Jorge Nuno Pinto da Costa, acompanhado pelo treinador José Maria Pedroto, ao Presidente do clube portista, Américo de Sá, que ficaria conhecido pelo "Verão Quente" portista] e que desejo ver resolvidos da forma que melhor sirva os interesses do clube, não vacilei em optar pelo Benfica, aonde regresso com o mesmo entusiasmo e com a mesma esperança com que lá entrei quando era muito jovem.
 
- Registo, se me dá licença, o meu apreço pela cordialidade e honestidade com que comigo trataram os dirigentes de todos os clubes que estiveram, agora, interessados nos meus serviços.
 
Vital, que completa 26 anos de idade no dia 27 deste mês, inicia hoje mesmo um período de férias no Norte, já porque tem lá casa (no Porto e Famalicão), já porque está lá sua mulher, prestes a ser mamã".

 

domingo, 18 de junho de 2017

Depois de consumada a transferência para o Bétis...o Jornal "A BOLA" entrevista "Chico" Vital.


Na edição, de 4 de Fevereiro de 1980, o Jornal "A BOLA" realizou um artigo/entrevista com Francisco Vital, no seguimento da sua transferência para o Real Bétis de Espanha...titulando: "Vital no futebol espanhol...Sou jogador de área e não viro a cara à luta".

Começando o artigo e a respectiva entrevista, assim: "Vital casou anteontem (2 de Fevereiro) na Igreja de Santiago de Antas, em Vila Nova de Famalicão, com Maria José Carneiro Barroso e não poderia ter vivido, horas antes de dar o «nó» momentos mais agitados. Ia alta a madrugada de anteontem quando partiu para Famalicão para dar a notícia à sua «futura» esposa e aos seus da consumação da transferência para o futebol espanhol.

Vital, apesar da sua vontade, esteve sempre céptico em que o negócio se concretizasse. E a coisa esteve, mesmo, feia, quando lhe foi dito que iria para o Bétis «à experiência».

Vital reagiu, quis abandonar a mesa das negociações que foram interrompidas algumas horas para que os dirigentes béticos que se deslocaram ao Porto (o tesoureiro Francisco Borbollo, e o secretário, Gerardo Martinez) contactassem telefonicamente o presidente do clube (Juan Manuel Mauduit).

Ás duas horas da manhã de sábado - e, então, já em casa do director do futebol profissional portista, Jorge Nuno Pinto da Costa, e não no Hotel Dom Henrique - foram reatadas as negociações, agora com a presença do empresário Roberto Dale, com plenos poderes para fechar o negócio.

Vital assinou, como a «Bola» noticiou anteontem, com o Bétis, um contrato que lhe vai proporcionar mais de três centenas de contos mensais, considerando «luvas» e ordenado (e sem considerar prémios e diárias nos estágios, além de casa para viver). Ontem (03 de Fevereiro), em dia de núpcias, conseguimos contactar Vital, que nos confirmava a sua satisfação pelo passo dado e nos dizia da sua confiança em conseguir impor-se no difícil futebol espanhol.

- Tenho características para me adaptar com facilidade. Sou jogador de área e não viro a cara à luta. Não me vou intimidar com a dureza dos espanhóis.

- A sua época (1979/80) vinha sendo bastante promissora - observamos.

- Sim, realmente - confessaria Vital - parece que tinha deixado de ser, no F.C. Porto, um avançado azarento. Nesta época, em seis ou sete jogos, fiz meia dúzia de golos, entre o Nacional e a Taça. Parece que não é mau. Há que ver que eu não entrava em todos os jogos de início e assim um jogador não é a mesma coisa. Faltava-me a rotina do lugar e uma certa confiança que se adquire jogando sempre. Estou convencido de que a ser utilizado normalmente, o meu rendimento subiria imediatamente.

- Que razões o levam a transferir-se para o futebol espanhol?

- Razões de ordem financeira, em primeiro de tudo e depois, também a oportunidade de poder demonstrar todas as minhas possibilidades para fazer grandes contratos.

- Este não é?

- É, em relação aos que se fazem no futebol português. Eu não tinha possibilidades de fazer o mesmo contrato com nenhuma equipa portuguesa actualmente. Mas tenho confiança de que hei-de fazer contratos mais vantajosos.

- Para um começo de vida...

- É muito bom. Mas não me posso queixar. Tenho ganho algum dinheiro e tenho-o investido.

- A casa que tinha acabado de montar?

- Não há problema, fica montada e bem entregue, à espera do meu regresso.

- É verdade que Pedroto não o queria deixar sair?

- É. Ele queria que eu continuasse e nem sequer me falou de nada. Eu é que fui ter com ele e lhe confessei a minha vontade de ir, se as condições fossem as que me falava o [António] Oliveira. Ninguém me influenciou a tomar a decisão que tomei. O Oliveira teve um contacto comigo, os dias foram-se passando e só na sexta-feira (1 de Fevereiro) me foi posto o problema em termos concretos.

Vital no Bétis. Uma transferência meteórica"...


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Na mesma edição, António Oliveira fala da transferência de Vital dizendo:

"- Acha que Vital vai conseguir impor-se no futebol espanhol?

- O Vital reúne as características perfeitas para se adaptar ao futebol espanhol. Dentro de pouco tempo irá dar muito que falar em Espanha.

- Quem indicou o Vital ao Bétis?

- Fui eu que o indiquei e os seus dirigentes contrataram-no porque acreditaram em mim e são meus amigos [faço uma ressalva, nesta afirmação, por achar que o interesse no "Chico" já vinha desde a pré-temporada quando ele marcou, nas Antas, dois golos ao Bétis]

- Mas o Bétis queria o Vital, primeiro à «experiência».

- Queria, mas como é que um jogador como o Vital «internacional» como ele por todas as selecções apenas com vinte e cinco anos de idade, um jogador que tem uma «higiene de vida» estupenda, poderia ir «à experiência» por qualquer clube?. Naturalmente que não podia ser e eu fiz ver isso aos dirigentes do Bétis e ao empresário".

Fase das negociações com vista à transferência do
"Chico" Vital para o Bétis. Os dois dirigentes béticos
trocam impressões com António Oliveira e Vital.
Imagem: Jornal "A BOLA".
 

Os contornos de uma transferência "relâmpago"... para o Bétis de Sevilha.


O Jornal "A BOLA" conta-nos todos os contornos da transferência do "Chico" para o Bétis de Sevilha, nos inícios de Fevereiro de 1980...Transferência esta que envolveu um outro personagem do futebol português, António de Oliveira...

Assim na edição de 2 de Fevereiro de 1980, surge-nos uma pequena notícia, assinada pelo jornalista Alfredo Barbosa, que tem por título: "Por ano e meio...Vital no Bétis"...Afirmando-se, no pequeno artigo, o seguinte:

"Já de madrugada, cerca das 3 horas, o «negócio Oliveira» [parece que António Oliveira, então jogador do Bétis, sugeriu ao empresário Roberto Dale, como forma de compensação para a sua saída do Bétis, que Vital se mudasse para o clube bético, atenuando o montante a pagar pelo F.C. Porto, ao clube andaluz, enquanto o Bétis teria de formular um contrato como o "Chico"] conheceu mais um dado: a Direcção do F.C. Porto chegou a acordo com o empresário (mandatado pelo Bétis) Roberto Dale para a cedência definitiva de Vital ao clube espanhol. Assim, o «ponta de lança» assinou com o clube espanhol um contrato de ano e meio  (o resto da época e a próxima) - [que acabou por não cumprir, como já vimos], estando prevista a sua deslocação a Sevilha para depois da amanhã, a fim de se submeter a um exame médico. Nesta deslocação, Vital será acompanhado por Luís César, secretário do futebol portista e, ainda, de sua esposa".

Ainda no mesmo artigo, o "Chico", foi ouvido pelo jornalista, e afirmou o seguinte: "- Foi uma excelente prenda de casamento, pois consegui um contrato bastante favorável e estou vivamente interessado em triunfar no futebol espanhol. Foi um negócio atribulado, mas valeu a pena".

Na mesma peça jornalística..."Jorge Nuno Pinto da Costa dirigente portista [Chefe do Departamento de Futebol, na altura], adiantar-nos-ia da sua enorme satisfação pelo regresso de Oliveira confessando-se, no entanto, triste, por ver sair Vital, embora reconhecendo que, para o «ponta de lança», se tratou de uma excelente oportunidade, tanto do ponto de vista desportivo como financeiro. E finalizou: - Desejo felicidades a ambos".

sábado, 17 de junho de 2017

O último jogo do "Chico Vital" no F.C. Porto...antes de transferir-se para o Bétis de Sevilha... e... em que marcou o golo da vitória portista.


O último jogo que Francisco Vital realizou no F.C. Porto, efectuou-se a 20 de Janeiro de 1980, num jogo, referente à 16.ª Jornada do Campeonato Nacional de Futebol, da Época 1979/80, com o Sporting de Braga, curiosamente, o clube da localidade onde nasceu, marcando o golo da vitória, aos 70 minutos.

Assim a Ficha deste jogo foi a seguinte:

F.C. PORTO, 1 - SP. BRAGA, 0

Estádio das Antas, no Porto (20-01-1980),

Árbitro: Raúl Ribeiro, de Aveiro,

FUTEBOL CLUBE DO PORTO: Fonseca; Teixeira; Simões, Freitas, Murça; Frasco, Rodolfo «capitão» (Romeu, 64 minutos) e António Sousa; Albertino (VITAL, entrou aos 45 minutos da 2.ª parte), Duda e Fernando Gomes. Treinador: José Maria Pedroto.

SPORTING DE BRAGA: Conhé; Mendes, Duarte, Serra e João Cardoso «capitão», José Artur, Quinito e Nelinho, Jacques (Dito, 76 minutos), Chico Gordo e Chico Faria. Treinador-Jogador: Quinito.

O único golo da partida, foi marcado aos 70 minutos, pelo "Chico" Vital...explicado, no Jornal "A BOLA", na edição de 21 de Janeiro de 1980, da seguinte forma: "Livre contra os bracarenses, no flanco esquerdo da sua defensiva punindo «falta» de Chico Faria sobre Simões. Teixeira executou-o com o pé direito, levando a bola até à pequena área contrária onde se elevaram vários jogadores. Foi porém, [o brasileiro] Duda quem subiu mais alto, tocando a bola para perto aparecendo VITAL a rematar com rapidez de forma imparável. Tendo considerado, "o Jornal "A BOLA", que "Vital foi o «trunfo» que Pedroto soube jogar".


Caricatura do "Chico"
pertencente à Caderneta
"Génios da Bola 1978/1979"